Relatório de leitura do texto
‘‘O Homem Cordial’’
Do livro: Raízes do Brasil – Sérgio
Buarque de Holanda
Breve
Comentário do trabalho:
O
objetivo desta obra é explanar uma análise de leitura ressaltando a relevância
do pensamento do historiador Sérgio Buarque de Holanda apontando as inovações e
as contribuições do texto ‘‘O Homem Cordial’’ do livro Raízes do Brasil.
Resenha
do texto: ‘‘O Homem Cordial’’ – Sérgio Buarque de Holanda.
Sérgio Buarque de Holanda nascido em 11 de julho
de 1902,
falecido em São Paulo, 24 de abril de 1982
foi um dos mais importantes historiadores brasileiros.
Foi também crítico literário e jornalista.
Abordaremos nessa resenha sua ótica acerca de
seu trabalho abordando sobre o ‘‘homem cordial’’ e seu ‘‘jeitinho brasileiro’’.
Patrimonalismo:
‘‘O Estado, não é uma ampliação do círculo
familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas
vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo’’. Para o autor,
só através da transgressão da ordem doméstica, ou seja, passando por cima
desses ‘‘valores impostos pela tradição familiar, é que é possível que se nasça
o Estado. Que o simples indivíduo se torna cidadão e responsável antes as leis
que regem a sociedade. Nesse fato, reside a existência da vitória do geral
sobre o particular, do intelectual sobre o material. Ainda hoje persistem aqui
e ali, mesmo nas grandes cidades, algumas famílias ‘‘retardatárias’’,
concentradas em si mesmas e obedientes ao velho ideal que mandava educarem-se
os filhos apenas no círculo doméstico. Ou seja, criavam os filhos para si e não
para enfrentarem o mundo. Isso causa o enfraquecimento do indivíduo para
enfrentar os desafios de se viver num mundo cada vez mais progressista e
atualizado. ‘‘A criança deve ser preparada para desobedecer nos pontos em que
sejam falíveis as previsões dos pais’’ [...] ‘‘Os casos freqüentes em que os
jovens são dominados pelas mães e pais na escolha das roupas, dos brinquedos,
dos interesses e atividades gerais, a ponto de se tornarem incompetentes, tanto
social, quanto individualmente, quando não psicopatas, são demasiados
freqüentes para serem ignorados’’ (p.143). Ou seja, para Sérgio Buarque de
Holanda, o excesso de proteção, atrapalha não só o desenvolvimento dessa
criança e desse jovem, como também constitui um bloqueio para o progresso de
uma sociedade onde os indivíduos possam se tornar bons cidadãos. Infelizmente,
isso ainda ocorre nos dias atuais. Herança do estilo de vida do pater famílias.
Transplantados para longe dos pais, muitos
jovens, os ‘‘filhos aterrados’’ de que falava Capistrano de Abreu, só por essa
forma conseguiam alcançar um senso de responsabilidade que lhes fora até então
vedado. Joaquim Nabuco já dizia que, ‘‘em nossa política e em nossa sociedade
[...], são os órfãos, os abandonados, que vencem a luta e que governam’’. Ou
seja, podemos ver claramente que a falta de luta enfraquece o espírito dos
cidadãos que não sofreram certa emancipação livrando-se das amarras do ‘‘cordão
umbilical’’. Sócrates já dizia: ‘‘o homem para ser completo tem que estudar,
trabalhar e lutar’’. O indivíduo que busca e alcança esses três elementos,
torna a sociedade um mundo melhor para se viver.
Homem Cordial:
Já se disse, numa expressão feliz, que a
contribuição brasileira para a civilização será a cordialidade – daremos ao
mundo o ‘‘homem cordial’’. A elegância e suavidade no trato, a hospitalidade, a
generosidade, são virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam. Traço
e estigma do caráter brasileiro. Permanente e fecunda a influência ancestral
dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal (esse
último citamos mais acima).
Entre os japoneses, onde, como se sabe, a
polidez envolve os aspectos mais ordinários do convívio social, chegando a
ponto de confundir-se, por vezes, com a reverência religiosa. Já houve quem
notasse este fato significativo, de que as formas exteriores de veneração a
divindade, no cerimonial Xintoísta (religião oficial do Japão baseada no culto
dos antepassados e espíritos), não diferem essencialmente das maneiras sociais
de demonstrar respeito. Curiosidade é que no próprio Japão, existe três normais
para modo de tratamento: normal (aplicado para pessoas de intimidade), respeito
(dia a dia) e super respeito (pessoas mais velhas, educadores e autoridades).
Um exemplo disso é o ‘‘você’’ que é utilizado para todas as pessoas mas
dependendo do caso, pessoas íntimas refere-se como ‘‘omae’’ e de respeito
‘‘anata’’. Ambas significam ‘‘você’’. O próprio imperador Hiroíto permitia que
conversasse com ele olhando nos olhas apenas uma classe: Os professores. Essa
valorização do mestre foi a responsável por tirar o país do caos em que
mergulhou depois da Segunda Guerra Mundial, totalmente destruído pelos
americanos. O governo japonês partiu para ações efetivas e não para solenidades
vazias. Não vangloriou aqueles que já morreram pela educação, valorizou os que
iriam sobreviver dela. Os governantes aprenderam com seus mestres que tinham
que ensinar para sobreviver às adversidades que vieram com o caos da guerra. O
Japão tornou-se a segunda maior potência econômica do pós-guerra.
Nenhum povo está mais distante dessa noção
ritualística de vida do que o brasileiro. Aqui, as políticas de relacionamento
profissional e ‘‘network’’ são feitas com presentinhos, encontros em
restaurantes, e o uso do sufixo ‘‘inho’’. Aliás o Brasil é o país dos ‘‘inho’’.
Conhece alguém com nome de Roberto e logo se torna ‘‘Betinho’’ e por aí vai.
Uma maneira de tornar os relacionamentos mais acessíveis aos sentidos e também
de aproximá-los do coração. Característica tão registrada e fundida em nosso
‘‘jeitinho brasileiro’’. A própria Santa, Teresa de Lisieux veio a se tornar
‘‘Santa Teresinha’’. Uma intimidade quase desrespeitosa se fosse essa forma de
tratamento fora do Brasil.
A mesma ordem de manifestações pertence
certamente a tendência para omissão do nome de família no tratamento social. Em
regra, é o nome individual, de batismo, que prevalece. Herança de nossos
ancestrais lusos. Algo que em regiões como Europa e Ásia é tão natural e até
mesmo obrigatório para estabelecer bons relacionamentos de início (qualquer
tipo de relacionamento). Prova disso é o Japão (no qual citamos mais a frente),
eu mesmo conheço muitos japoneses e todo ano conheço muitos outros que vem para
o Brasil com intercâmbio cultural e quando vou me apresentar, para adquirir
respeito preciso da formalidade: ‘‘Hajime Mashitê, Watashi Wa, Avelar Filipe
Desu’’ (Muito prazer, sou da família Avelar e me chamo Filipe’’.
Como se sabe, os nomes de família, só entram a
predominar na Europa Cristã e medieval a partir do século XII.
Em suma, a ideia do homem cordial é a ideia de
um homem que reage conforme seu coração. Numa visão que podemos chamar de até
maniqueísta pois ele pode se inclinar tanto para o bem quanto para o mal.
Inclinado tanto para extremos sentimentos amorosos ou mesmo muito violento. O
brasileiro sempre caminhou para esse lado, muitas vezes incapaz de seguir uma
hierarquia ou uma disciplina muito rígida. O homem cordial precisa de estar
fora das barreiras que para ele são amarras que o impedem de estabelecer bons
relacionamentos e ele precisa encurtar distâncias. O homem cordial é avesso as
informalidades. Apesar de ser descendente dos lusitanos nos quais são muito
formais e tradicionalistas, o brasileiro não, ele criou essa informalidade
natural. Isso continua existindo e ao que tudo indica sempre haverá essa linha
tênue entre o bem e o mal. Característica desse homem cordial que pode estar de
braços abertos para qualquer um e subitamente pode estar num estado belicista
do qual faz-nos lembrar que ‘‘verás que um filho teu não foge a luta’’.
Referência bibliográfica: Sérgio Buarque de Holanda. ‘‘O Homem Cordial’’. In:
Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995 (26° Ed.), p. 139-151.
Por: Filipe Avelar.