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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Capistrano de Abreu...........



Resenha: ‘‘Capítulos de História Colonial’’ – Três Séculos Depois.

Breve Comentário do trabalho:

      O objetivo desta obra é explanar uma análise de leitura ressaltando a relevância da visão pluralista do Brasil no período colonial, na qual a obra do autor abordou aspectos históricos, geográficos, políticos, econômicos e culturais do cotidiano (história das mentalidades). Obra singular que rompeu os paradigmas dos textos de caráter histórico até então predominantes, nos apresentando uma nova história cultural.   
      
 Três Séculos Depois...........

 O Historiador Capistrano de Abreu (1853-1927) fez uma grande contribuição para historiografia brasileira pois suas obras trouxeram uma nova perspectiva para a história do Brasil, posto que ela nos mostra uma visão não de um Brasil homogêneo nem romantizado, mas sim uma verdadeira pluralidade de culturas  e mentalidades diferentes.

     Uma de suas marcas de grande contribuição seja os dados geográficos ricos em detalhes (p.96). Contrapondo-se a Francisco Adolfo de Varnhagen, mostra-nos um Brasil heterogêneo, e não uma visão linear e esterotipada da ‘‘da Terra de Brasis’’. Capistrano consegue destrinchar a questão dos personagens da colonização (no segundo parágrado da p.96) reporta os tipos de etnias que viviam aqui. Explana ao leitor a ideia de que a história do ‘‘Brasil’’ não era a história ‘‘vista de cima’’, aquela escrita por nossos colonizadores lusitanos, o que leva-nos a refletir que na verdade o que houve no Brasil não foi um descobrimento, mas sim uma dominação (a história do Brasil não começa em 1500 se prestarmos atenção no que nos relata o historiador em seus textos).
     Rico em detalhes em várias partes de seu texto, expõe desde o escravo andarilho até o cavaleiro habilidoso (p.97). Sua erudição e rigorosa investiagação historiográfica leva-nos a analisarmos uma sociedade elitista, em contrastes incríveis no que tange a preconceitos e racismos (o próprio autor deixa transparecer em seu texto pois cita os mulatos o tempo inteiro de forma pejorativa). O que não podemos condenar com a visão historiográfica, posto que seria anacronia por parte do leitor e Capistrano também é fruto da mentalidade da época em que estava inserido.
     Nos relata o comportamento misógino da época. Fala sobre as moças que só conheciam seus noivos no dia do casamento. Comenta sobre tipos de vestimentas e jóias que servia para distinguir classes sociais (p. 98). As Casas de Vivenda (Casa Grande) também são destacadas em sua obra, assim como a diversidade de pessoas que viviam e passavam por ela.
     Fato que chama atenção, é como ele relata a História das Mentalidades (costumes) em relação a esses grupos que viviam no ‘‘Brasil’’ (colocamos entre aspas pois a ideia de um Brasil ainda não existia). Em uma parte da p. 99 ele nos relata: ‘‘...não se pode apanhar café senão com negros; é pois em comprar negros que gastam todos os seus rendimentos, e o aumento de sua fortuna serve muito mais para satisfazer-lhes a vaidade que para aumentar-lhes os gozos’’. Deixando transpassar claramente a sua insatisfação com sociedade na qual a fortuna era muito mais para acender a fogueira das vaidades do que para o prazer ou a satisfação pessoal. Posto que ter um escravo era ter um artigo de luxo, seu preço era o equivalente a 1kg de ouro (com essa mesma quantia se podia comprar um vasto pedaço de terra ou algumas cabeças de gado).
     Em várias partes do texto, o autor deixa externar seu preconceito e rixa para com os mulatos (esses por sua vez muito discriminados em sua época, posto que não eram nem branco nem pretos, mas a hibridez dessas duas etnias). Cita o termo ‘‘mulatismos’’, relata através de dados numéricos que os mulatos no Brasil eram mais do que os brancos e pretos somados juntos (p. 101). Os considera indóceis, rixentos, menos cordiais que os negros, e que de seus festins brotavam assassinos e capangas (pistoleiros).
     Um certo deboche em uma canção na qual Spix e Martius ouvem cantar na Bahia: ‘‘Uma mulata bonita, Não carece de rezar, Abasta o mimo que tem para sua alma salvar’’ (nos passando a ideia de que seduz até a Divindade para conseguir redenção). Embora para nós do século XXI isso possa ser racismo e preconceito, essa era a lógica e a mentalidade do povo que estudava, analisava e convivia com índios, negros, mulatos, etc. Os viam como ‘‘raças inferiores’’. Essa era a visão eurocentrista desses colonos europeus na qual para o homem luso, alguém de ‘‘sangue azul’’ deveria ser branco, português e católico. E Capistrano de Abreu, assim como todo historiador, era fruto de seu tempo e portanto a explicação para a visão de um homem do século XIX.
     Impressiona-nos seu estudo em história cultural, a riqueza de detalhes e o merecido destaque da comparação que ele faz entre o mineiro e o paulista, nos mostrando seus diferentes costumes e tradições (o que talvez faça com que muitos historiadores, tanto contrários ou favoráveis a Capistrano não deixem de ler suas obras de forma obrigatória por causa da imersão de ideias que se podem conjecturar através de seus ricos dados detalhadíssimos). Em certo ponto, ao leitor razoável, possa parecer que Capistrano é desordenado (amíude ele volta atrás e avança com um mesmo assunto).
     Merecidamente também podemos descatar seu estudo acerca da pecuária da época (em especial o Gado Vacum) na qual ele relata até mesmo o nível de forragem que o animal necessita para crescer mais robusto, técnicas de utilização do sal em sua dieta, etc.
     Embora expressando discreto preconceito contra o mulato, nos relata acerca do ‘‘pobre índio’’ sumindo das cidades ante ao europeu e o negro (p.103). Aborda desde os costume e perfil das moças de treze a quatorze anos até os costumes e tradições de se receber visitantes (p.106).
     Algo que em  especial chamou atenção, é quando o historiador fala acerca de saneamento. Os dejetos ficavam entregues a iniciativa privada (p.106). Um costume para essa época era atirar ao mar, enterrar ou lançar em matagais.
     Outro fator curioso foi acerca dos cemitérios: ‘‘Enterravam-se os cadáveres nas igreja’’ (p.106). Expressando assim o mito de que a igreja era ‘‘solo sagrado’’. Ideia essa que perdurou por muito tempo até que se construíssem cemitérios e fizessem as pessoas acreditarem que também se tratava de um ‘‘lugar sagrado’’.

Concluindo:
    
     Capítulos de História Colonial (Três Séculos Depois) é uma obra muito importante e singular pois sua obra nos conduz a uma análise mais crítica e imparcial da história do Brasil vista ‘‘de baixo’’ e não ‘‘de cima’’ como em muitos tempos vinha sendo abordada. Sua obra permitiu-nos a fazer uma análise mais abrangente e contrapor com outras fontes gerando assim uma dialética mais objetiva dos fatos que antes eram apenas narrados na visão do europeu. Suas pesquisas influenciam o historiador a ter uma análise mais progressista e menos ‘‘positivista’’ se preocupando de uma forma mais justa com a nova historiografia brasileira.




Bibliografia:

ABREU, Capistrano de. Capítulos de História Colonial. In: ‘‘Três Séculos Depois’’. 1907. Versão em PDF elaborada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BN-RJ).

                                                                                                               Por: Filipe Avelar.