Resenha: ‘‘Capítulos de História
Colonial’’ – Três Séculos Depois.
Breve Comentário do trabalho:
O
objetivo desta obra é explanar uma análise de leitura ressaltando a relevância
da visão pluralista do Brasil no período colonial, na qual a obra do autor
abordou aspectos históricos, geográficos, políticos, econômicos e culturais do
cotidiano (história das mentalidades). Obra singular que rompeu os paradigmas
dos textos de caráter histórico até então predominantes, nos apresentando uma
nova história cultural.
Três Séculos Depois...........
O
Historiador Capistrano de Abreu (1853-1927) fez uma grande contribuição para
historiografia brasileira pois suas obras trouxeram uma nova perspectiva para a
história do Brasil, posto que ela nos mostra uma visão não de um Brasil
homogêneo nem romantizado, mas sim uma verdadeira pluralidade de culturas e mentalidades diferentes.
Uma de suas marcas de grande contribuição
seja os dados geográficos ricos em detalhes (p.96). Contrapondo-se a Francisco Adolfo de Varnhagen, mostra-nos
um Brasil heterogêneo, e não uma visão linear e esterotipada da ‘‘da Terra de
Brasis’’. Capistrano consegue destrinchar a questão dos personagens da
colonização (no segundo parágrado da p.96) reporta os tipos de etnias que
viviam aqui. Explana ao leitor a ideia de que a história do ‘‘Brasil’’ não era
a história ‘‘vista de cima’’, aquela escrita por nossos colonizadores
lusitanos, o que leva-nos a refletir que na verdade o que houve no Brasil não
foi um descobrimento, mas sim uma dominação (a história do Brasil não começa em
1500 se prestarmos atenção no que nos relata o historiador em seus textos).
Rico em
detalhes em várias partes de seu texto, expõe desde o escravo andarilho até o
cavaleiro habilidoso (p.97). Sua erudição e rigorosa investiagação
historiográfica leva-nos a analisarmos uma sociedade elitista, em contrastes
incríveis no que tange a preconceitos e racismos (o próprio autor deixa
transparecer em seu texto pois cita os mulatos o tempo inteiro de forma
pejorativa). O que não podemos condenar com a visão historiográfica, posto que
seria anacronia por parte do leitor e Capistrano também é fruto da mentalidade
da época em que estava inserido.
Nos
relata o comportamento misógino da época. Fala sobre as moças que só conheciam
seus noivos no dia do casamento. Comenta sobre tipos de vestimentas e jóias que
servia para distinguir classes sociais (p. 98). As Casas de Vivenda (Casa
Grande) também são destacadas em sua obra, assim como a diversidade de pessoas
que viviam e passavam por ela.
Fato
que chama atenção, é como ele relata a História das Mentalidades (costumes) em
relação a esses grupos que viviam no ‘‘Brasil’’ (colocamos entre aspas pois a
ideia de um Brasil ainda não existia). Em uma parte da p. 99 ele nos relata:
‘‘...não se pode apanhar café senão com negros; é pois em comprar negros que
gastam todos os seus rendimentos, e o aumento de sua fortuna serve muito mais para
satisfazer-lhes a vaidade que para aumentar-lhes os gozos’’. Deixando
transpassar claramente a sua insatisfação com sociedade na qual a fortuna era
muito mais para acender a fogueira das vaidades do que para o prazer ou a
satisfação pessoal. Posto que ter um escravo era ter um artigo de luxo, seu
preço era o equivalente a 1kg de ouro (com essa mesma quantia se podia comprar
um vasto pedaço de terra ou algumas cabeças de gado).
Em
várias partes do texto, o autor deixa externar seu preconceito e rixa para com
os mulatos (esses por sua vez muito discriminados em sua época, posto que não
eram nem branco nem pretos, mas a hibridez dessas duas etnias). Cita o termo
‘‘mulatismos’’, relata através de dados numéricos que os mulatos no Brasil eram
mais do que os brancos e pretos somados juntos (p. 101). Os considera indóceis,
rixentos, menos cordiais que os negros, e que de seus festins brotavam
assassinos e capangas (pistoleiros).
Um
certo deboche em uma canção na qual Spix e Martius ouvem cantar na Bahia: ‘‘Uma
mulata bonita, Não carece de rezar, Abasta o mimo que tem para sua alma
salvar’’ (nos passando a ideia de que seduz até a Divindade para conseguir
redenção). Embora para nós do século XXI isso possa ser racismo e preconceito,
essa era a lógica e a mentalidade do povo que estudava, analisava e convivia
com índios, negros, mulatos, etc. Os viam como ‘‘raças inferiores’’. Essa era a
visão eurocentrista desses colonos europeus na qual para o homem luso, alguém
de ‘‘sangue azul’’ deveria ser branco, português e católico. E Capistrano de
Abreu, assim como todo historiador, era fruto de seu tempo e portanto a
explicação para a visão de um homem do século XIX.
Impressiona-nos seu estudo em história cultural, a riqueza de detalhes e
o merecido destaque da comparação que ele faz entre o mineiro e o paulista, nos
mostrando seus diferentes costumes e tradições (o que talvez faça com que
muitos historiadores, tanto contrários ou favoráveis a Capistrano não deixem de
ler suas obras de forma obrigatória por causa da imersão de ideias que se podem
conjecturar através de seus ricos dados detalhadíssimos). Em certo ponto, ao
leitor razoável, possa parecer que Capistrano é desordenado (amíude ele volta
atrás e avança com um mesmo assunto).
Merecidamente também podemos descatar seu estudo acerca da pecuária da
época (em especial o Gado Vacum) na qual ele relata até mesmo o nível de
forragem que o animal necessita para crescer mais robusto, técnicas de
utilização do sal em sua dieta, etc.
Embora
expressando discreto preconceito contra o mulato, nos relata acerca do ‘‘pobre índio’’
sumindo das cidades ante ao europeu e o negro (p.103). Aborda desde os costume
e perfil das moças de treze a quatorze anos até os costumes e tradições de se
receber visitantes (p.106).
Algo
que em especial chamou atenção, é quando
o historiador fala acerca de saneamento. Os dejetos ficavam entregues a
iniciativa privada (p.106). Um costume para essa época era atirar ao mar,
enterrar ou lançar em matagais.
Outro
fator curioso foi acerca dos cemitérios: ‘‘Enterravam-se os cadáveres nas igreja’’
(p.106). Expressando assim o mito de que a igreja era ‘‘solo sagrado’’. Ideia
essa que perdurou por muito tempo até que se construíssem cemitérios e fizessem
as pessoas acreditarem que também se tratava de um ‘‘lugar sagrado’’.
Concluindo:
Capítulos de História Colonial (Três Séculos
Depois) é uma obra muito importante e singular pois sua obra nos conduz a uma
análise mais crítica e imparcial da história do Brasil vista ‘‘de baixo’’ e não
‘‘de cima’’ como em muitos tempos vinha sendo abordada. Sua obra permitiu-nos a
fazer uma análise mais abrangente e contrapor com outras fontes gerando assim
uma dialética mais objetiva dos fatos que antes eram apenas narrados na visão
do europeu. Suas pesquisas influenciam o historiador a ter uma análise mais
progressista e menos ‘‘positivista’’ se preocupando de uma forma mais justa com
a nova historiografia brasileira.
Bibliografia:
ABREU, Capistrano de.
Capítulos de História Colonial. In: ‘‘Três Séculos Depois’’. 1907. Versão em
PDF elaborada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BN-RJ).
Por: Filipe Avelar.
Por: Filipe Avelar.