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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Genocídio praticado pelos EUA...


O Massacre de My Lai

     My Lai era o nome da aldeia vietnamita que em 16 de março de 1968 mais de 500 civis na maioria mulheres, crianças e idosos foram torturados, violentados sexualmente e executados pelos soldados do Exército dos Estados Unidos da América. Alguns corpos foram mutilados pelos soldados americanos. Foi o maior massacre de civis ocorrido durante a Guerra do Vietnã (1955-1975).
     Na véspera da operação, integrantes da Companhia Charlie, da 11ª Brigada de Infantaria, mandados à região por denúncias de que a área estaria servindo de refúgio para guerrilheiros da FNL (Frente Nacional de Libertação do Vietnã), foram informados pelo comando norte-americano que os habitantes de My Lai e das aldeias vizinhas saíam para o mercado da região as sete da manhã para compra de comida e que, consequentemente, aqueles que ficassem na área seriam guerrilheiros vietcongs ou simpatizantes.


Como consequência, integrantes de um dos pelotões da companhia, comandados pelo tenente William Calley, rumaram para o local. Muitos soldados dessa unidade haviam sido mortos ou feridos em combates, nos dias anteriores.

     Quando as tropas penetraram na aldeia, o tenente Calley, lhes disse: "É o que vocês estavam esperando: uma missão de procurar e destruir". Calley diria mais tarde ter recebido ordens para "limpar My Lai", considerada um feudo dos combatentes da FNL. "As ordens eram para matar tudo o que se mexesse", diria mais tarde um dos militares americanos ao jornalista Seymour Hersh, que daria a conhecer ao mundo o horror praticado pelo exército dos EUA naquela aldeia .
Sob o comando de Calley, o pelotão não poupou ninguém. Em apenas quatro horas, mataram os animais, queimaram as choupanas, violaram e mutilaram as mulheres, assassinaram homens e trucidaram as crianças. Para sobreviver, alguns habitantes tiveram que fingir-se de mortos, passando horas no meio dos cadáveres. No final da orgia de sangue, havia 504 cadáveres dos aldeões, em sua grande maioria idosos, mulheres e crianças (cerca de 170), todos desarmados e assassinados a sangue frio. Ron Haeberle, fotógrafo militar que acompanhava o pelotão, encarregou-se de imortalizar a chacina.


No Ocidente, o episódio é conhecido como o massacre de My Lai, e no Vietnã, como Son My, o nome do povoado a que pertenciam as quatro aldeias, entre elas My Lai, que serviram de cenário para a orgia matinal de atrocidades, celebrada pelos homens da Companhia Charlie, dirigida pelo capitão Ernest Medina.
Cerca de vinte pessoas sobreviveram. As casas foram incendiadas, e as quatro aldeias reduzidas a cinzas. Quando acabou a guerra, em 1975, alguns voltaram para recomeçar a vida na terra de seus ancestrais. Seis deles permanecem na comunidade, rebatizada pela República Socialista do Vietnã como Tinh Khe.
O massacre só foi interrompido graças à iniciativa heróica do piloto de helicóptero, Hugh Thompson, Jr., que vendo do alto a matança, pousou o aparelho e ameaçou atirar com as metralhadoras de sua própria nave contra os soldados americanos.


O crime só veio a público um ano depois, devido a denúncias saídas de dentro do exército, por soldados que testemunharam ou ouviram os detalhes do caso – e um deles, Ronald Ridenhour, escreveu a diversos integrantes do governo americano, inclusive ao Presidente Nixon – e chegaram a órgãos de imprensa e às televisões. Jornalistas independentes conseguiram fotos dos assassinatos e as estamparam na mídia mundial, ajudando a aumentar o horror e os esforços dos pacifistas a pressionar o governo Nixon a se retirar do Vietnã.
Em março de 1970, 25 soldados foram indiciados pelo exército dos Estados Unidos por crime de guerra e ocultação de fatos e provas no caso de My Lai. Comparado pela mídia aos genocídios de Oradour-sur-Glane e Lídice durante a Segunda Guerra Mundial, que causou a condenação e execução de diversos oficiais nazistas, apenas o tenente William Calley, comandante do pelotão responsável pelas mortes foi indiciado e julgado.

Condenado à prisão perpétua, Calley foi perdoado dois dias depois da divulgação da sentença pelo Presidente Richard Nixon, cumprindo uma pena alternativa de três anos e meio em prisão domiciliar na base militar de Fort Benning, na Geórgia.
  

Envolvidos no massacre

Oficiais:
  • William L. Calley. 2º Tenente. Líder do 1º Pelotão da Companhia Charlie. Foi o único a ser condenado pelo massacre.
  • Frank A. Barker. Tenente-Coronel, comandante da Força-Tarefa Barker. Ordenou a destruição da aldeia e de seus habitantes. Foi morto em combate no dia 13 de junho de 1968.
  • Stephen Brooks. Tenente. Líder do 2º Pelotão da Companhia de Charlie.
  • Oran K. Henderson. Coronel. Sobrevoou a aldeia em seu helicóptero e ordenou o ataque.
  • Samuel W. Koster. General, comandante da Divisão Americal. Cuidou de encobrir o que acontecera em My Lai.
  • Eugene Kotouc. Capitão da inteligência militar. Forneceu as informações sobre a aldeia atacada. Suspeito de ter participado de torturas e execuções sumárias, após o episódio de My Lai.
  • Ernest Medina. Capitão, comandante da Companhia Charlie. Planejou, autorizou e supervisionou as operações em My Lai.
  • Michael Bernhardt. Sargento. Por ter se recusado a participar da matança dos civis em My Lai, recebeu ameaças do capitão Medina. A partir de então, foi designado para várias missões muito arriscadas, mas saiu ileso delas. Foi uma das testemunhas no inquérito sobre o massacre. Em 1970, recebeu o prêmio "Humanista Ético".
  • Herbert Carter. Feriu-se acidental ou intencionamente (recebeu um tiro no pé), sendo retirado do local onde ocorria o massacre.
  • Dennis Conti. No inquérito, declarou que, inicialmente, recusou-se a atirar contra os camponeses de My Lai, mas depois disparou com seu lançador de granada M79 sobre um grupo de pessoas que tentava fugir do massacre.
  • James Dursi. Matou uma mulher e sua criança, mas depois (segundo seu depoimento no Inquérito) negou-se a continuar matando.
  • Ronald Grzesik. Líder de equipe. Participou do agrupamento dos moradores de My Lai, mas alegou ter se recusado a matá-los.
  • Robert Maples. Afirmou, no Inquérito, ter se recusado a participar do massacre.
  • Paul Meadlo. Incialmente negou, mas depois admitiu sua participação na carnificina.
  • David Mitchell. Sargento. Apesar do depoimento de testemunhas que afirmaram tê-lo visto atirando sobre os civis de My Lai, foi declarado inocente no Inquérito.
  • Varnado Simpson . Suicidou-se em 1997, alegando não suportar o sentimento de culpa por ter cometido vários assassinatos em My Lai.
  • Harry Stanley. Alegou ter se recusado a participar da matança.
  • Ezequiel Torres. Torturou um velho aldeão de My Lai que ele encontrou com uma perna enfaixada (considerada suspeita). Atirou contra um grupo de dez mulheres e cinco crianças em uma cabana. Depois, recebeu ordens de Calley para disparar sua M60 contra os civis da aldeia. Ele teria disparado um única vez e depois se recusado a continuar. Então, Calley lhe teria tirado a arma das mãos, disparando ele próprio.
  • Frederick Widmer. No inquérito, descreveu com detalhes ter matado um menino de My Lai que estava com um braço despedaçado por um tiro. Ele olhou bem na cara da criança e disparou. “Gosto de pensar que pratiquei um ato de clemência. Mas sei que não foi direito” - declarou.

   
Citações:
"Eram muitos soldados, aproximaram-se da casa atirando nas galinhas e os patos. Matavam tudo o que viam. Sentimos um medo atroz. Na casa, estávamos minha mãe, minha filha de 16 anos, meu filho de seis e eu, que estava grávida. Apontaram suas armas para nós e pediram que saíssemos e fôssemos até o açude. (...) Havia muita gente no açude. Empurraram-nos para dentro dele a coronhadas. Juntávamos as mãos e implorávamos para que não nos matassem, mas eles começaram a disparar. Senti como se as balas me mordessem nas costas e na perna, vi como elas arrancaram metade do rosto de minha filha, e então desmaiei. O frio me devolveu a consciência. Meu filho pequeno jazia a meu lado. Não conseguia andar. Arrastei-me para chegar à minha casa e beber água porque estava com uma sede terrível. No caminho encontrei os corpos nus de muitas jovens. Eles as haviam violado e assassinado"
- Ha Thi Quy, 83 anos em 2008.
"Ainda ouço com nitidez os gritos dos soldados que irromperam em minha casa naquela manhã. ‘Tudi maus, tudi maus!’ Não sei o que isso queria dizer. Nem sei se era inglês ou uma imitação de vietnamita, mas era o que gritavam enquanto apontavam para nós e faziam sinais para sairmos. ‘Tudi maus, tudi maus!’ Minha mãe me disse para fugir e me esconder. Minhas irmãs corriam atrás de mim seguidas pela minha mãe com meus dois irmãos pequenos; o menor, tinha dois anos. Quando íamos entrar no abrigo, nos metralharam. Seus corpos caíram sobre mim".
- Cong Pham Thanh, que tinha onze anos no dia do massacre.
"Sobrevoamos uma vala em que haviam sido mortos mais de cem vietnamitas. Andreotta percebeu movimentos, então Thompson aterrissou novamente. Andreotta foi diretamente até a vala. Teve que caminhar entre cadáveres que chegavam à altura de sua cintura para resgatar um menino pequeno. Eu fiquei de pé, em campo aberto. Ele se aproximou e me entregou o menino, mas a vala estava tão cheia de cadáveres e de sangue que ele não conseguia sair. Estendi o meu rifle para ele e o ajudei a sair".
- Larry Colbrun, artilheiro do helicóptero pilotado por Hugh Thompson.
"Não se passa um só dia que seja em que eu não sinta remorsos pelo sucedido em My Lai. Se me perguntar porque eu fiz aquilo, só posso dizer que eu não passava de um segundo tenente a receber ordens do meu superior hierárquico, e que obedeci".
- Wiliiam Calley, citado por um diário da cidade de Columbus, na Georgia.


Oficial do massacre de My Lai pede perdão 40 anos depois

Tenente que comandava a companhia responsável pela morte de 300 a 500 pessoas falou pela primeira vez sobre os acontecimentos de 1968.
Foi num tom de voz pausado e seguro, embargado pela emoção no final, que o antigo tenente William L. Calley pediu perdão pelo massacre da população da aldeia vietnamita de My Lai, sucedido a 16 de Março de 1968.
"Não se passa um só dia que seja em que eu não sinta remorsos pelo sucedido em My Lai", disse Calley, citado por um diário da cidade de Columbus, na Georgia, onde proferiu o pedido de desculpas quarta-feira, ainda que as suas declarações só tenham sido conhecidas ontem.
Calley, que foi o único oficial condenado pela justiça militar americana no massacre em que terão morrido entre 300 a 500 pessoas (ver caixa), falava numa reunião dos Kiwanis Internacional (organização de apoio e formação de jovens), tendo sido aplaudido longamente de pé por quase todos os 50 convidados, segundo testemunho de alguns presentes.
"Sinto remorsos pelos vietnamitas que foram mortos, pelos seus familiares, pelos soldados americanos envolvidos no caso e pelas famílias destes. Lamento profundamente o sucedido", disse Calley, actualmente com 66 anos.
Ciclicamente requisitado por jornalistas para dar entrevistas sobre o sucedido, Calley recusou sempre - constituindo a intervenção de quarta-feira a primeira vez que o antigo tenente alguma vez se referiu publicamente ao caso, que, na época, provocou uma onda de reacções críticas na América e no mundo.


Fonte: History Channel.

Caio Prado Jr...




Relatório de leitura do texto

‘‘Sentido da Colonização’’

Do livro: Formação do Brasil Contemporâneo – Caio Prado Jr.

Breve Comentário do trabalho:
  

Temos por objetivo, criar um relatório de leitura analisando o pensamento do historiador Caio Prado Júnior apontando as inovações e as contribuições do livro ‘‘A Formação do Brasil Contemporâneo’’.

Relatório de Leitura do Texto: ‘‘Sentido da Colonização’’ – Caio Prado Junior.

Caio Prado Junior nascido em 11 de fevereiro de 1907, falecido em São Paulo, 23 de novembro de 1990, foi historiador, geógrafo, escritor, político e editor brasileiro.
Abordaremos nessa resenha o trabalho do historiador e sua ótica acerca da evolução do Brasil no decorrer de três séculos que passamos sobre o domínio lusitano.
Em seu capítulo ‘‘O Sentido da Colonização’’, o historiador buscou analisou a sociedade colonial brasileira com respaldo em ideias desenvolvidas por Karl Marx seguindo a linha do ‘‘Materialismo Histórico’’. Sua ideia central é de que o autor vê na colônia uma sociedade cuja estrutura e funcionamento foram determinadas pelo comércio exterior e portanto, um mero empreendimento a serviço do capital de comércio europeu.

‘‘O início do século XIX não se assinala para nós unicamente por estes acontecimentos relevantes que são a transferência da sede da monarquia portuguesa para o Brasil e os atos preparatórios da emancipação política do país’’. (p.7). Em 22 de janeiro de 1808, Dom João e sua corte lusitana desembarcam no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que a família real portuguesa pisava no solo dos trópicos.
Para Caio Prado Júnior, o passado colonial e escravista do Brasil, cuja razão de sua existência era a de produzir em larga escala, visando o mercado exterior, com sua necessária permanência da mão de obra escrava, está profundamente impressa nas instituições econômicas e sociais nos dias de hoje (devemos nos lembrar que Caio Prado Júnior escreveu esse livro durante a Segunda Grande Guerra Mundial em 1942 e ainda assim podemos ver que sua obra não se encontra obsoleta, a julgar pela composição atual de nossa organização política). Para o autor, o caráter colonial permanecia na estruturação da sociedade brasileira.

As Navegações Lusas em busca de Capital


‘‘No alvorecer do século XV, a história portuguesa muda de rumo’’ [...] ‘‘Portugal vai se transformando num país marítimo; desliga-se por assim dizer, do continente, e volta-se para o oceano que se abria para o outro lado; não tardará, com suas empresas e conquistas no ultramar, em se tornar uma grande potência colonial ’’. (p.16).
Devemos lembrar que Portugal foi pioneiro nas Grandes Navegações no século XV, pois foi o primeiro reino da Europa a se estabelecer politicamente. Possuíam uma religião pré-estabelecida (Católica) e não sofria de guerras políticas ou religiosas, como o caso da França e Inglaterra por exemplo. Podemos ainda mencionar seu posicionamento geográfico pois Portugal em toda sua costa é banhada pelo Oceano Atlântico (o que facilitou a expensão).

O desenvolvimento desse ‘‘capitalismo’’ (aspas pois o termo é anacrônico para a época) está relacionado a expansão marítimo-comercial européia, cujos resultados foram o descobrimento de novas rotas de comércio para o Oriente e o descobrimento, expansão e conquista colonial da América. A burguesia lusitana almejava assegurar um fornecimento de mercadorias e metais preciosos ao mesmo tempo abalar o monopólio italiano, em particular o da cidade de Gênova que nesse momento estava em seu apogeu devido aos mercadorias orientais. No solo de Portugal não se produzia nada, o povo luso era um fiasco em produção além do fato que seu solo não era fértil para plantio em larga escala (que era seu objetivo). Sem contar que também não possuíam exército de trabalhadores para serviço braçal como afirma o próprio autor:
‘‘Em Portugal, a população era tão insuficiente que a maior parte do território se achava ainda, em meados do século XVI, inculta e abandonada’’. (p.27).
Como mencionamos acima, a limitação do mercado consumidor, o esgotamento das minas de metais preciosos e o monopólio italiano no Mediterrâneo provocaram a busca de uma alternativa para expansão comercial. Ou seja, a expansão-marítimo comercial européia foi resultante da busca soluções para uma série de problemas que não só Portugal, mas toda Europa vinha enfrentando no século XIV. A solução final seria trazer um produto que todos pudessem consumir a um preço bem customizado, as especiarias (que já eram explorada nas Índias).

Para Caio Prado Júnior, as expansão marítima dos países da Europa, depois do século XV, expansão de que o descobrimento e a colonização da América constituem o capítulo que particularmente nos interessa aqui, se origina de simples empresas comerciais levadas a efeito pelos navegadores daqueles países.
Em suma, Caio Prado Júnior foi o pioneiro a abordar os trezentos anos de período colonial. Embora sua obra possa parecer de leitura redundante, sua obra é essencial para compreendermos o Brasil contemporâneo e globalizado. Embora o autor seja um historiador da história econômica, Raízes do Brasil faz um analisa rica tanto no que tange a cultura, artes e até mesmo indústria.
Caio Prado Júnior foi neto do maior exportador de café do mundo. Aristocrata e de linhagem refinada, sua obra ressalta os frutos de seu tempo (1942) e por isso sua obra embora possa parecer elitista, seu livro deve ser lido com cuidado para que os leitores não venham a cometer anacronia psicológica.


Referência bibliográfica: Caio Prado Jr. ‘‘Sentido da Colonização’’. In: Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1996 (23° Ed.).

Por Filipe Avelar


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O ''Homem Cordial''.




Relatório de leitura do texto

‘‘O Homem Cordial’’

Do livro: Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda


Breve Comentário do trabalho:

      O objetivo desta obra é explanar uma análise de leitura ressaltando a relevância do pensamento do historiador Sérgio Buarque de Holanda apontando as inovações e as contribuições do texto ‘‘O Homem Cordial’’ do livro Raízes do Brasil.

Resenha do texto: ‘‘O Homem Cordial’’ – Sérgio Buarque de Holanda.

Sérgio Buarque de Holanda nascido em 11 de julho de 1902, falecido em São Paulo, 24 de abril de 1982 foi um dos mais importantes historiadores brasileiros. Foi também crítico literário e jornalista.
Abordaremos nessa resenha sua ótica acerca de seu trabalho abordando sobre o ‘‘homem cordial’’ e seu ‘‘jeitinho brasileiro’’.

Patrimonalismo:
‘‘O Estado, não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo’’. Para o autor, só através da transgressão da ordem doméstica, ou seja, passando por cima desses ‘‘valores impostos pela tradição familiar, é que é possível que se nasça o Estado. Que o simples indivíduo se torna cidadão e responsável antes as leis que regem a sociedade. Nesse fato, reside a existência da vitória do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material. Ainda hoje persistem aqui e ali, mesmo nas grandes cidades, algumas famílias ‘‘retardatárias’’, concentradas em si mesmas e obedientes ao velho ideal que mandava educarem-se os filhos apenas no círculo doméstico. Ou seja, criavam os filhos para si e não para enfrentarem o mundo. Isso causa o enfraquecimento do indivíduo para enfrentar os desafios de se viver num mundo cada vez mais progressista e atualizado. ‘‘A criança deve ser preparada para desobedecer nos pontos em que sejam falíveis as previsões dos pais’’ [...] ‘‘Os casos freqüentes em que os jovens são dominados pelas mães e pais na escolha das roupas, dos brinquedos, dos interesses e atividades gerais, a ponto de se tornarem incompetentes, tanto social, quanto individualmente, quando não psicopatas, são demasiados freqüentes para serem ignorados’’ (p.143). Ou seja, para Sérgio Buarque de Holanda, o excesso de proteção, atrapalha não só o desenvolvimento dessa criança e desse jovem, como também constitui um bloqueio para o progresso de uma sociedade onde os indivíduos possam se tornar bons cidadãos. Infelizmente, isso ainda ocorre nos dias atuais. Herança do estilo de vida do pater famílias.
Transplantados para longe dos pais, muitos jovens, os ‘‘filhos aterrados’’ de que falava Capistrano de Abreu, só por essa forma conseguiam alcançar um senso de responsabilidade que lhes fora até então vedado. Joaquim Nabuco já dizia que, ‘‘em nossa política e em nossa sociedade [...], são os órfãos, os abandonados, que vencem a luta e que governam’’. Ou seja, podemos ver claramente que a falta de luta enfraquece o espírito dos cidadãos que não sofreram certa emancipação livrando-se das amarras do ‘‘cordão umbilical’’. Sócrates já dizia: ‘‘o homem para ser completo tem que estudar, trabalhar e lutar’’. O indivíduo que busca e alcança esses três elementos, torna a sociedade um mundo melhor para se viver.

Homem Cordial:
Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será a cordialidade – daremos ao mundo o ‘‘homem cordial’’. A elegância e suavidade no trato, a hospitalidade, a generosidade, são virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam. Traço e estigma do caráter brasileiro. Permanente e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal (esse último citamos mais acima).
Entre os japoneses, onde, como se sabe, a polidez envolve os aspectos mais ordinários do convívio social, chegando a ponto de confundir-se, por vezes, com a reverência religiosa. Já houve quem notasse este fato significativo, de que as formas exteriores de veneração a divindade, no cerimonial Xintoísta (religião oficial do Japão baseada no culto dos antepassados e espíritos), não diferem essencialmente das maneiras sociais de demonstrar respeito. Curiosidade é que no próprio Japão, existe três normais para modo de tratamento: normal (aplicado para pessoas de intimidade), respeito (dia a dia) e super respeito (pessoas mais velhas, educadores e autoridades). Um exemplo disso é o ‘‘você’’ que é utilizado para todas as pessoas mas dependendo do caso, pessoas íntimas refere-se como ‘‘omae’’ e de respeito ‘‘anata’’. Ambas significam ‘‘você’’. O próprio imperador Hiroíto permitia que conversasse com ele olhando nos olhas apenas uma classe: Os professores. Essa valorização do mestre foi a responsável por tirar o país do caos em que mergulhou depois da Segunda Guerra Mundial, totalmente destruído pelos americanos. O governo japonês partiu para ações efetivas e não para solenidades vazias. Não vangloriou aqueles que já morreram pela educação, valorizou os que iriam sobreviver dela. Os governantes aprenderam com seus mestres que tinham que ensinar para sobreviver às adversidades que vieram com o caos da guerra. O Japão tornou-se a segunda maior potência econômica do pós-guerra.
Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualística de vida do que o brasileiro. Aqui, as políticas de relacionamento profissional e ‘‘network’’ são feitas com presentinhos, encontros em restaurantes, e o uso do sufixo ‘‘inho’’. Aliás o Brasil é o país dos ‘‘inho’’. Conhece alguém com nome de Roberto e logo se torna ‘‘Betinho’’ e por aí vai. Uma maneira de tornar os relacionamentos mais acessíveis aos sentidos e também de aproximá-los do coração. Característica tão registrada e fundida em nosso ‘‘jeitinho brasileiro’’. A própria Santa, Teresa de Lisieux veio a se tornar ‘‘Santa Teresinha’’. Uma intimidade quase desrespeitosa se fosse essa forma de tratamento fora do Brasil.
A mesma ordem de manifestações pertence certamente a tendência para omissão do nome de família no tratamento social. Em regra, é o nome individual, de batismo, que prevalece. Herança de nossos ancestrais lusos. Algo que em regiões como Europa e Ásia é tão natural e até mesmo obrigatório para estabelecer bons relacionamentos de início (qualquer tipo de relacionamento). Prova disso é o Japão (no qual citamos mais a frente), eu mesmo conheço muitos japoneses e todo ano conheço muitos outros que vem para o Brasil com intercâmbio cultural e quando vou me apresentar, para adquirir respeito preciso da formalidade: ‘‘Hajime Mashitê, Watashi Wa, Avelar Filipe Desu’’ (Muito prazer, sou da família Avelar e me chamo Filipe’’.
Como se sabe, os nomes de família, só entram a predominar na Europa Cristã e medieval a partir do século XII.


 Em suma, a ideia do homem cordial é a ideia de um homem que reage conforme seu coração. Numa visão que podemos chamar de até maniqueísta pois ele pode se inclinar tanto para o bem quanto para o mal. Inclinado tanto para extremos sentimentos amorosos ou mesmo muito violento. O brasileiro sempre caminhou para esse lado, muitas vezes incapaz de seguir uma hierarquia ou uma disciplina muito rígida. O homem cordial precisa de estar fora das barreiras que para ele são amarras que o impedem de estabelecer bons relacionamentos e ele precisa encurtar distâncias. O homem cordial é avesso as informalidades. Apesar de ser descendente dos lusitanos nos quais são muito formais e tradicionalistas, o brasileiro não, ele criou essa informalidade natural. Isso continua existindo e ao que tudo indica sempre haverá essa linha tênue entre o bem e o mal. Característica desse homem cordial que pode estar de braços abertos para qualquer um e subitamente pode estar num estado belicista do qual faz-nos lembrar que ‘‘verás que um filho teu não foge a luta’’.

Referência bibliográfica: Sérgio Buarque de Holanda. ‘‘O Homem Cordial’’. In: Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995 (26° Ed.), p. 139-151.

Por: Filipe Avelar.

Casa Grande & Senzala...




Relatório de leitura do texto

‘‘O Escravo Negro na Vida Sexual e de Família do Brasileiro’’

Do livro: Casa Grande & Senzala – Gilberto Freyre

Breve Comentário do trabalho:

      O objetivo desta obra é explanar uma análise de leitura ressaltando a relevância do pensamento de Gilberto Freyre apontando as inovações e as contribuições do texto ‘‘O Escravo Negro na Vida Sexual e de Família do Brasileiro’’, capítulo de sua obra Casa Grande & Senzala.

Resenha do texto: ‘‘O Escravo Negro na Vida Sexual e de Família do Brasileiro’’ - Gilberto Freyre.

O sociólogo Gilberto Freyre faz uma análise sobre a força motriz da colonização lusitana no Brasil. Para ele, a força dessa colonização e o resultado dela está na miscigenação.
Sua obra aponta para a formação sócio-cultural do Brasil através do hibridismo entre três raças: O índio, o português e o negro. Esse último para Freyre sobrepõe sua cultura ante as outras duas raças. Sua obra no entanto, destaca a relação entre senhor e escravo.
No texto, é ressaltado que todos nós brasileiros carregamos no corpo ou em nossa cultura do dia a dia algum estigma da influência africana. Freyre começa o capítulo enfatizando a importância da ama de leite e sua relação com a criança no período colonial e a proximidade que isso causava entre os dois.
O posicionamento geográfico, favoreceu ao negro posto ele teria uma cultura ‘‘superior’’ a do indígena. Quanto aos historiadores do século XIX, limitaram a procedência dos escravos importados para o Brasil ao estoque banto. Algo que deveria ser corrigido, posto que foram muitas as espécies trazidas do continente africano e cada qual tinha sua própria cultura o que fazia que o continente africano fosse um tanto heterogêneo socioculturalmente.
Para Freyre, a formação brasileira foi beneficiada pelo melhor da cultura negra da África, absorvendo elementos culturalmente elitistas na qual faltaram na mesma proporção ao sul dos E.U.A.
Geográfica e climaticamente, o negro tem pré-disposição biológica para o clima dos trópicos, se banhavam muito, possuem gosto e resistência ao sol, enquanto os índios reverenciavam mais os dias de chuva. Se adaptaram melhor ao trópico pois enquanto os índios eram mais cerimonialistas os negros eram mais corteses e aglomeravam-se entre as outras raças com maior adaptabilidade. Dominaram a cozinha brasileira devido a sua culinária que era muito bem apreciada pelos portugueses.


 Através de estudos antropológicos, Freyre apontou para o fato dos negros terem grande memória, intuição e percepção imediata das coisas. Os africanos vindos para o Brasil eram procedentes da cultura maometana (islamismo), cultura ‘‘superior’’ à dos índios e à maioria dos colonos brancos. Estes africanos sabiam ler e escrever, qualidades semelhantes ao árabe. Nas senzalas da Bahia no século XIX, havia mais gente lendo e escrevendo do que na casa grande. O islamismo desenvolveu cultura forte nas Senzalas, hábitos como se vestir de branco (africanos gostam de vestimentas colorizadas e não brancas como os árabes), cultuar o dia dos mortos, jejum, rezas, etc. São todos resquícios do estigma árabe.
Também as roupas das mucamas sofria a influência da cultura maometana. Sua sexualidada era aflorada e portanto cabia a ela iniciar os mais jovens dentro da casa grande (para Freyre, não existe escravidão sem depravação portanto, a libertinagem do negro fazia regime simbiótico com sua condição de escravo) característica desse modo de vida tanto nas senzalas como nas casas grandes.
No que tange as questões religiosas, verificou-se entre nós uma profunda confraternização de valores e de sentimentos. Predominantemente coletivistas, os vindos das senzalas, aportavam mais o individualismo, e para o primitivismo, os das casas grandes. ‘‘Os escravos tornados cristãos fazem mais progresso na civilização’’, observou Koster.
Não foi só ‘‘no sistema de batizar negros’’ que se resumia a política de assimilação, ao mesmo tempo que de contemporização seguida no Brasil pelos senhores de escravos: consistiu principalmente em dar aos negros a oportunidade de conservarem, à sombra dos costumes europeus e dos ritos e doutrinas católicas, formas e acessórios da cultura mítica africana.
Em suma, O sociólogo possui uma visão adocicada do Brasil. Talvez porque ele escreva com a mente de Pernambuco (os Estados do Brasil não eram homogêneos), Freyre escreve com a mente de Pernambuco e o próprio assume que sua obra era uma ensaio (p. 368, 2° parágrafo). O autor explana uma visão na qual a cultura do negro é superior a do indígena e do português. O jeito extrovertido, alegre, plástico e adaptável, o tornava mais ‘‘absoluto’’ nesse critério de sobrevivência ao ambiente no qual ele foi inserido e portanto ele era superior o hibridismo racial que resultou na miscigenação.  Quando Freyre amiúde cita a tese de que o negro seria ‘‘superior’’ ao indígena nem ao português , para nós historiadores, soa um tanto com grau etnocêntrico. Talvez pela ótica em que o autor tenha desenvolvido devido ao fato do próprio ter tido contato vivente com o modus viventi da casa grande, muitas vezes também chamada de ‘‘casas de vivenda’’.

Referência bibliográfica: Casa Grande & Senzala. FREYRE Gilberto. Capítulo IV ‘‘O Escravo Negro na Vida Sexual e de Família do Brasileiro’’.

Por: Filipe Avelar.

Elide Rugai Bastos...




Relatório de leitura do texto

Gilberto Freyre e o Tema da Miscigenação

                Elide Rugai Bastos                     

 
Breve Comentário do trabalho:

      O objetivo desta obra é explanar uma análise de leitura ressaltando a relevância do pensamento de Gilberto Freyre apontando as inovações, o limite e as contribuições de sua obra Casa Grande & Senzala.


Resenha do texto: ‘‘Gilberto Freyre e o Tema da Miscigenação’’ - Elide Rugai Bastos.

A autora Elide Rugai Bastos, faz uma rica análise de uma das principais obras do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre: “Casa-grande & Senzala”, lançado pela primeira vez em 1933. Ela expõe os pontos de vista de Freyre sobre miscigenação, formação do povo brasileiro e suas principais teses.
Rugai salienta o período em que o livro foi lançado – 1933 – em que o País estava passando por uma reformulação política e surgiam questões sobre a formação da nação e que tipo de política poderia ser idealizada para aquela população.
A autora faz uma análise também do tipo de formação que Freyre obteve fora do Brasil. Freyre estudou nos Estados Unidos e após esse tempo na América do Norte, foi para a Europa, onde adquiriu uma formação impecável em Sociologia. Dentre os lugares aonde estudou, destacam-se a Universidade de Colúmbia e sua complementação foi realizada em Oxford. Dessa formação, Gilberto Freyre foi influenciado por autores espanhóis como Ganivet, Unamuno, Pio Baroja entre outros. Ele também foi inovador em sua visão antropológica da história do Brasil e de seu povo,
O texto cita algumas de suas fontes que o autor utilizou para realizar sua pesquisa e iniciar a obra que é uma história íntima do povo brasileiro: “Assim, utilizará base documental diferente das convencionais utilizadas por historiadores, arrolando dados colhidos em diários íntimos, cartas, livros de viagens, folhetins, autobiografias, confissões, depoimentos pessoais escritos e orais, livros de modinhas e versos, cadernos de receita, romances, notícias e artigos de jornais”.
Uma das teses que Gilberto Freyre questiona é a do “determinismo geográfico” que afirmava que o homem seria produto do meio em que vive sendo assim ele não se adaptaria a outro ambiente. Freyre cita o exemplo do colonizador português que, mesmo estando em um ambiente “hostil” para sua natureza européia, consegue se adaptar e permanecer no trópico.
Rugai fala sobre a chamada “democracia racial” onde o autor diz que houve uma tolerância por parte dos portugueses em relação a cultura oposta dos índios e negros. Tese largamente desacreditada mais tarde por outros autores como Florestan Fernandes.  Segundo a visão freyriana, os portugueses eram menos preconceituosos do que outros povos europeus e adotaram de bom grado a cultura de outros povos.
Freyre questiona e rejeita as interpretações que se fundam na afirmação sobre a inferioridade de algumas raças sobre outras, lugar comum na maior parte dos autores da década de 20. Para Freyre, a sociedade brasileira só pode ser compreendida se nós nos atentarmos para os três elementos que a definem:
1 – O Patriarcado que seria um termo utilizado nas ciências sociais como referência a uma sociedade em que o homem exerce o poder de liderança na família (pater familias), tendo a mulher uma condição inferior (ideologia misógina desse período).
2 – Inter-relação das etnias e cultura que seria a miscigenação racial, a pluraridade de costumes e tradições assim como o meio em que o indivíduo se encontra e se adapta.
3 – O Trópico. Esse último, refere-se ao ambiente climático, geográfico no qual essa sociedade vai sendo planificada.

Para Gilberto Freyre, esses elementos, tem igual peso e relevância. Esses três marcos definidores da formação nacional aparecem correlacionados de maneira que cada um deles, encontra sua explicação convergindo com os outros dois. Ou seja, o Patriarcalismo é a discussão que ele faz sobre a família. No que tange a miscigenação não é apenas racial no Brasil mas também cultural e tanto a família como essa miscigenação só são possíveis, porque acontecem no trópico. Ou seja, a condição especial de nosso território que se difere completamente da européia.
Quando analisamos as diferentes etnias e culturas no povo brasileiro, Freyre aponta para o fato de na constituição da sociedade nacional, existir um embate de duas inclinações (ou tendências), ou seja, o sociólogo o tempo inteiro ressalta como temos anexado em nossa formação um princípio dual (formando-se como numa simbiose). Esses princípios seriam:
A presença de uma linguagem erudita e outra rústica. As duas criando a constituição de nossa sociedade nacional.

Em suma, a historiadora Elide Rugai Bastos aponta para relevância da obra de Gilberto Freyre Casa Grande & Senzala como um relato inovador no campo dos estudos históricos e sociológicos e o emprego de fontes diferentes (contrárias aos historiadores adeptos do método empregado pelo positivismo). Seu trabalho, trata-se de um método ainda não utilizado nas reflexões sociológicas no Brasil: O estudo do cotidiano. Portanto, uma fonte opulenta de história das mentalidades, culturas e tradições do período colonial.

Por: Filipe Avelar, Driele Soares e Cris Gonçalves.
 

BASTOS, Elide Rugai. “Gilberto Freyre: Casa-Grande e Senzala”. In: MOTA, Lourenço Dantas (org). Introdução ao Brasil: um banquete no Trópico. São Paulo: Ed. Senac, 2004, p. 215-234.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Capistrano de Abreu...........



Resenha: ‘‘Capítulos de História Colonial’’ – Três Séculos Depois.

Breve Comentário do trabalho:

      O objetivo desta obra é explanar uma análise de leitura ressaltando a relevância da visão pluralista do Brasil no período colonial, na qual a obra do autor abordou aspectos históricos, geográficos, políticos, econômicos e culturais do cotidiano (história das mentalidades). Obra singular que rompeu os paradigmas dos textos de caráter histórico até então predominantes, nos apresentando uma nova história cultural.   
      
 Três Séculos Depois...........

 O Historiador Capistrano de Abreu (1853-1927) fez uma grande contribuição para historiografia brasileira pois suas obras trouxeram uma nova perspectiva para a história do Brasil, posto que ela nos mostra uma visão não de um Brasil homogêneo nem romantizado, mas sim uma verdadeira pluralidade de culturas  e mentalidades diferentes.

     Uma de suas marcas de grande contribuição seja os dados geográficos ricos em detalhes (p.96). Contrapondo-se a Francisco Adolfo de Varnhagen, mostra-nos um Brasil heterogêneo, e não uma visão linear e esterotipada da ‘‘da Terra de Brasis’’. Capistrano consegue destrinchar a questão dos personagens da colonização (no segundo parágrado da p.96) reporta os tipos de etnias que viviam aqui. Explana ao leitor a ideia de que a história do ‘‘Brasil’’ não era a história ‘‘vista de cima’’, aquela escrita por nossos colonizadores lusitanos, o que leva-nos a refletir que na verdade o que houve no Brasil não foi um descobrimento, mas sim uma dominação (a história do Brasil não começa em 1500 se prestarmos atenção no que nos relata o historiador em seus textos).
     Rico em detalhes em várias partes de seu texto, expõe desde o escravo andarilho até o cavaleiro habilidoso (p.97). Sua erudição e rigorosa investiagação historiográfica leva-nos a analisarmos uma sociedade elitista, em contrastes incríveis no que tange a preconceitos e racismos (o próprio autor deixa transparecer em seu texto pois cita os mulatos o tempo inteiro de forma pejorativa). O que não podemos condenar com a visão historiográfica, posto que seria anacronia por parte do leitor e Capistrano também é fruto da mentalidade da época em que estava inserido.
     Nos relata o comportamento misógino da época. Fala sobre as moças que só conheciam seus noivos no dia do casamento. Comenta sobre tipos de vestimentas e jóias que servia para distinguir classes sociais (p. 98). As Casas de Vivenda (Casa Grande) também são destacadas em sua obra, assim como a diversidade de pessoas que viviam e passavam por ela.
     Fato que chama atenção, é como ele relata a História das Mentalidades (costumes) em relação a esses grupos que viviam no ‘‘Brasil’’ (colocamos entre aspas pois a ideia de um Brasil ainda não existia). Em uma parte da p. 99 ele nos relata: ‘‘...não se pode apanhar café senão com negros; é pois em comprar negros que gastam todos os seus rendimentos, e o aumento de sua fortuna serve muito mais para satisfazer-lhes a vaidade que para aumentar-lhes os gozos’’. Deixando transpassar claramente a sua insatisfação com sociedade na qual a fortuna era muito mais para acender a fogueira das vaidades do que para o prazer ou a satisfação pessoal. Posto que ter um escravo era ter um artigo de luxo, seu preço era o equivalente a 1kg de ouro (com essa mesma quantia se podia comprar um vasto pedaço de terra ou algumas cabeças de gado).
     Em várias partes do texto, o autor deixa externar seu preconceito e rixa para com os mulatos (esses por sua vez muito discriminados em sua época, posto que não eram nem branco nem pretos, mas a hibridez dessas duas etnias). Cita o termo ‘‘mulatismos’’, relata através de dados numéricos que os mulatos no Brasil eram mais do que os brancos e pretos somados juntos (p. 101). Os considera indóceis, rixentos, menos cordiais que os negros, e que de seus festins brotavam assassinos e capangas (pistoleiros).
     Um certo deboche em uma canção na qual Spix e Martius ouvem cantar na Bahia: ‘‘Uma mulata bonita, Não carece de rezar, Abasta o mimo que tem para sua alma salvar’’ (nos passando a ideia de que seduz até a Divindade para conseguir redenção). Embora para nós do século XXI isso possa ser racismo e preconceito, essa era a lógica e a mentalidade do povo que estudava, analisava e convivia com índios, negros, mulatos, etc. Os viam como ‘‘raças inferiores’’. Essa era a visão eurocentrista desses colonos europeus na qual para o homem luso, alguém de ‘‘sangue azul’’ deveria ser branco, português e católico. E Capistrano de Abreu, assim como todo historiador, era fruto de seu tempo e portanto a explicação para a visão de um homem do século XIX.
     Impressiona-nos seu estudo em história cultural, a riqueza de detalhes e o merecido destaque da comparação que ele faz entre o mineiro e o paulista, nos mostrando seus diferentes costumes e tradições (o que talvez faça com que muitos historiadores, tanto contrários ou favoráveis a Capistrano não deixem de ler suas obras de forma obrigatória por causa da imersão de ideias que se podem conjecturar através de seus ricos dados detalhadíssimos). Em certo ponto, ao leitor razoável, possa parecer que Capistrano é desordenado (amíude ele volta atrás e avança com um mesmo assunto).
     Merecidamente também podemos descatar seu estudo acerca da pecuária da época (em especial o Gado Vacum) na qual ele relata até mesmo o nível de forragem que o animal necessita para crescer mais robusto, técnicas de utilização do sal em sua dieta, etc.
     Embora expressando discreto preconceito contra o mulato, nos relata acerca do ‘‘pobre índio’’ sumindo das cidades ante ao europeu e o negro (p.103). Aborda desde os costume e perfil das moças de treze a quatorze anos até os costumes e tradições de se receber visitantes (p.106).
     Algo que em  especial chamou atenção, é quando o historiador fala acerca de saneamento. Os dejetos ficavam entregues a iniciativa privada (p.106). Um costume para essa época era atirar ao mar, enterrar ou lançar em matagais.
     Outro fator curioso foi acerca dos cemitérios: ‘‘Enterravam-se os cadáveres nas igreja’’ (p.106). Expressando assim o mito de que a igreja era ‘‘solo sagrado’’. Ideia essa que perdurou por muito tempo até que se construíssem cemitérios e fizessem as pessoas acreditarem que também se tratava de um ‘‘lugar sagrado’’.

Concluindo:
    
     Capítulos de História Colonial (Três Séculos Depois) é uma obra muito importante e singular pois sua obra nos conduz a uma análise mais crítica e imparcial da história do Brasil vista ‘‘de baixo’’ e não ‘‘de cima’’ como em muitos tempos vinha sendo abordada. Sua obra permitiu-nos a fazer uma análise mais abrangente e contrapor com outras fontes gerando assim uma dialética mais objetiva dos fatos que antes eram apenas narrados na visão do europeu. Suas pesquisas influenciam o historiador a ter uma análise mais progressista e menos ‘‘positivista’’ se preocupando de uma forma mais justa com a nova historiografia brasileira.




Bibliografia:

ABREU, Capistrano de. Capítulos de História Colonial. In: ‘‘Três Séculos Depois’’. 1907. Versão em PDF elaborada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BN-RJ).

                                                                                                               Por: Filipe Avelar.