O Massacre de My Lai
My Lai era o nome da aldeia vietnamita que
em 16 de março de 1968 mais de 500 civis na maioria mulheres, crianças e idosos
foram torturados, violentados sexualmente e executados pelos soldados do
Exército dos Estados Unidos da América. Alguns corpos foram mutilados pelos
soldados americanos. Foi o maior massacre de civis ocorrido durante a Guerra do Vietnã (1955-1975).
Na véspera da operação, integrantes da Companhia
Charlie, da 11ª Brigada
de Infantaria,
mandados à região por denúncias de que a área estaria servindo de refúgio para guerrilheiros
da FNL (Frente Nacional de Libertação do Vietnã), foram informados pelo comando
norte-americano que os habitantes de My
Lai e das aldeias vizinhas saíam para o mercado da região as sete da
manhã para compra de comida e que, consequentemente, aqueles que ficassem na
área seriam guerrilheiros vietcongs ou simpatizantes.
Como
consequência, integrantes de um dos pelotões da companhia, comandados pelo tenente
William Calley,
rumaram para o local. Muitos soldados dessa unidade haviam sido mortos ou
feridos em combates, nos dias anteriores.
Quando as tropas penetraram na aldeia, o
tenente Calley, lhes disse: "É o que vocês estavam esperando: uma
missão de procurar e destruir". Calley diria mais tarde ter recebido
ordens para "limpar My Lai", considerada um feudo dos combatentes da
FNL. "As ordens eram para matar tudo o que se mexesse", diria
mais tarde um dos militares americanos ao jornalista Seymour Hersh,
que daria a conhecer ao mundo o horror praticado pelo exército dos EUA naquela
aldeia .
Sob o comando de Calley, o pelotão não poupou
ninguém. Em apenas quatro horas, mataram os animais, queimaram as choupanas,
violaram e mutilaram as mulheres, assassinaram homens e trucidaram as crianças.
Para sobreviver, alguns habitantes tiveram que fingir-se de mortos, passando
horas no meio dos cadáveres. No final da orgia de sangue, havia 504 cadáveres
dos aldeões, em sua grande maioria idosos, mulheres e crianças (cerca de 170),
todos desarmados e assassinados a sangue frio. Ron Haeberle, fotógrafo militar que
acompanhava o pelotão, encarregou-se de imortalizar a chacina.
No Ocidente, o episódio
é conhecido como o massacre de My Lai, e no Vietnã, como Son My, o nome do
povoado a que pertenciam as quatro aldeias, entre elas My Lai, que serviram de
cenário para a orgia matinal de atrocidades, celebrada pelos homens da Companhia
Charlie, dirigida pelo capitão Ernest Medina.
Cerca de vinte pessoas
sobreviveram. As casas foram incendiadas, e as quatro aldeias reduzidas a
cinzas. Quando acabou a guerra, em 1975,
alguns voltaram para recomeçar a vida na terra de seus ancestrais. Seis deles
permanecem na comunidade, rebatizada pela República Socialista do Vietnã como Tinh Khe.
O massacre só foi interrompido graças à
iniciativa heróica do piloto de helicóptero,
Hugh Thompson, Jr., que vendo do alto a
matança, pousou o aparelho e ameaçou atirar com as metralhadoras de sua própria
nave contra os soldados americanos.
O crime só veio a
público um ano depois, devido a denúncias saídas de dentro do exército, por
soldados que testemunharam ou ouviram os detalhes do caso – e um deles, Ronald
Ridenhour, escreveu a diversos integrantes do governo americano, inclusive ao Presidente Nixon
– e chegaram a órgãos de imprensa e às televisões. Jornalistas independentes
conseguiram fotos dos assassinatos e as estamparam na mídia mundial, ajudando a
aumentar o horror e os esforços dos pacifistas a pressionar o governo Nixon a
se retirar do Vietnã.
Em março de 1970, 25 soldados foram
indiciados pelo exército dos Estados Unidos
por crime de guerra e ocultação de fatos e provas
no caso de My Lai. Comparado pela mídia aos genocídios de Oradour-sur-Glane
e Lídice
durante a Segunda Guerra Mundial, que causou a condenação
e execução de diversos oficiais nazistas, apenas o tenente William Calley, comandante do pelotão
responsável pelas mortes foi indiciado e julgado.
Condenado à prisão perpétua, Calley foi perdoado dois dias
depois da divulgação da sentença pelo Presidente Richard Nixon,
cumprindo uma pena alternativa de três anos e meio em prisão domiciliar na base militar
de Fort Benning, na Geórgia.
Envolvidos no massacre
Oficiais:
- William L. Calley. 2º Tenente. Líder do 1º Pelotão da Companhia Charlie. Foi o único a ser condenado pelo massacre.
- Frank A. Barker. Tenente-Coronel, comandante da Força-Tarefa Barker. Ordenou a destruição da aldeia e de seus habitantes. Foi morto em combate no dia 13 de junho de 1968.
- Stephen Brooks. Tenente. Líder do 2º Pelotão da Companhia de Charlie.
- Oran K. Henderson. Coronel. Sobrevoou a aldeia em seu helicóptero e ordenou o ataque.
- Samuel W. Koster. General, comandante da Divisão Americal. Cuidou de encobrir o que acontecera em My Lai.
- Eugene Kotouc. Capitão da inteligência militar. Forneceu as informações sobre a aldeia atacada. Suspeito de ter participado de torturas e execuções sumárias, após o episódio de My Lai.
- Ernest Medina. Capitão, comandante da Companhia Charlie. Planejou, autorizou e supervisionou as operações em My Lai.
- Michael Bernhardt. Sargento. Por ter se recusado a participar da matança dos civis em My Lai, recebeu ameaças do capitão Medina. A partir de então, foi designado para várias missões muito arriscadas, mas saiu ileso delas. Foi uma das testemunhas no inquérito sobre o massacre. Em 1970, recebeu o prêmio "Humanista Ético".
- Herbert Carter. Feriu-se acidental ou intencionamente (recebeu um tiro no pé), sendo retirado do local onde ocorria o massacre.
- Dennis Conti. No inquérito, declarou que, inicialmente, recusou-se a atirar contra os camponeses de My Lai, mas depois disparou com seu lançador de granada M79 sobre um grupo de pessoas que tentava fugir do massacre.
- James Dursi. Matou uma mulher e sua criança, mas depois (segundo seu depoimento no Inquérito) negou-se a continuar matando.
- Ronald Grzesik. Líder de equipe. Participou do agrupamento dos moradores de My Lai, mas alegou ter se recusado a matá-los.
- Robert Maples. Afirmou, no Inquérito, ter se recusado a participar do massacre.
- Paul Meadlo. Incialmente negou, mas depois admitiu sua participação na carnificina.
- David Mitchell. Sargento. Apesar do depoimento de testemunhas que afirmaram tê-lo visto atirando sobre os civis de My Lai, foi declarado inocente no Inquérito.
- Varnado Simpson . Suicidou-se em 1997, alegando não suportar o sentimento de culpa por ter cometido vários assassinatos em My Lai.
- Harry Stanley. Alegou ter se recusado a participar da matança.
- Ezequiel Torres. Torturou um velho aldeão de My Lai que ele encontrou com uma perna enfaixada (considerada suspeita). Atirou contra um grupo de dez mulheres e cinco crianças em uma cabana. Depois, recebeu ordens de Calley para disparar sua M60 contra os civis da aldeia. Ele teria disparado um única vez e depois se recusado a continuar. Então, Calley lhe teria tirado a arma das mãos, disparando ele próprio.
- Frederick Widmer. No inquérito, descreveu com detalhes ter matado um menino de My Lai que estava com um braço despedaçado por um tiro. Ele olhou bem na cara da criança e disparou. “Gosto de pensar que pratiquei um ato de clemência. Mas sei que não foi direito” - declarou.
Citações:
"Eram muitos soldados, aproximaram-se da casa atirando
nas galinhas e os patos. Matavam tudo o que viam. Sentimos um medo atroz. Na
casa, estávamos minha mãe, minha filha de 16 anos, meu filho de seis e eu, que
estava grávida. Apontaram suas armas para nós e pediram que saíssemos e
fôssemos até o açude. (...) Havia muita gente no açude. Empurraram-nos para
dentro dele a coronhadas. Juntávamos as mãos e implorávamos para que não nos
matassem, mas eles começaram a disparar. Senti como se as balas me mordessem
nas costas e na perna, vi como elas arrancaram metade do rosto de minha filha,
e então desmaiei. O frio me devolveu a consciência. Meu filho pequeno jazia a
meu lado. Não conseguia andar. Arrastei-me para chegar à minha casa e beber
água porque estava com uma sede terrível. No caminho encontrei os corpos nus de
muitas jovens. Eles as haviam violado e assassinado"
- Ha Thi Quy, 83 anos em 2008.
"Ainda ouço com nitidez os gritos dos soldados que
irromperam em minha casa naquela manhã. ‘Tudi maus, tudi maus!’ Não sei o que
isso queria dizer. Nem sei se era inglês ou uma imitação de vietnamita, mas era
o que gritavam enquanto apontavam para nós e faziam sinais para sairmos. ‘Tudi
maus, tudi maus!’ Minha mãe me disse para fugir e me esconder. Minhas irmãs
corriam atrás de mim seguidas pela minha mãe com meus dois irmãos pequenos; o
menor, tinha dois anos. Quando íamos entrar no abrigo, nos metralharam. Seus
corpos caíram sobre mim".
- Cong Pham Thanh, que tinha onze anos no dia do massacre.
"Sobrevoamos uma vala em que haviam sido mortos mais
de cem vietnamitas. Andreotta percebeu movimentos, então Thompson aterrissou
novamente. Andreotta foi diretamente até a vala. Teve que caminhar entre
cadáveres que chegavam à altura de sua cintura para resgatar um menino pequeno.
Eu fiquei de pé, em campo aberto. Ele se aproximou e me entregou o menino, mas
a vala estava tão cheia de cadáveres e de sangue que ele não conseguia sair.
Estendi o meu rifle para ele e o ajudei a sair".
- Larry Colbrun, artilheiro do helicóptero pilotado por
Hugh Thompson.
"Não se passa um só dia que seja em que eu não sinta
remorsos pelo sucedido em
My Lai. Se me perguntar porque eu fiz aquilo, só posso dizer
que eu não passava de um segundo tenente a receber ordens do meu superior
hierárquico, e que obedeci".
- Wiliiam Calley, citado por um diário da
cidade de Columbus, na Georgia.Oficial do massacre de My Lai pede perdão 40 anos depois
Tenente
que comandava a companhia responsável pela morte de 300 a 500 pessoas falou pela
primeira vez sobre os acontecimentos de 1968.
Foi num tom de voz
pausado e seguro, embargado pela emoção no final, que o antigo tenente William
L. Calley pediu perdão pelo massacre da população da aldeia vietnamita de My
Lai, sucedido a 16 de Março de 1968.
"Não se passa um
só dia que seja em que eu não sinta remorsos pelo sucedido em My Lai", disse Calley,
citado por um diário da cidade de Columbus, na Georgia, onde proferiu o pedido
de desculpas quarta-feira, ainda que as suas declarações só tenham sido
conhecidas ontem.
Calley, que foi o único
oficial condenado pela justiça militar americana no massacre em que terão
morrido entre 300 a
500 pessoas (ver caixa), falava numa reunião dos Kiwanis Internacional
(organização de apoio e formação de jovens), tendo sido aplaudido longamente de
pé por quase todos os 50 convidados, segundo testemunho de alguns presentes.
"Sinto remorsos
pelos vietnamitas que foram mortos, pelos seus familiares, pelos soldados
americanos envolvidos no caso e pelas famílias destes. Lamento profundamente o
sucedido", disse Calley, actualmente com 66 anos.
Ciclicamente requisitado por jornalistas para
dar entrevistas sobre o sucedido, Calley recusou sempre - constituindo a
intervenção de quarta-feira a primeira vez que o antigo tenente alguma vez se
referiu publicamente ao caso, que, na época, provocou uma onda de reacções
críticas na América e no mundo.Fonte: History Channel.
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